Publicado em 05/06/2020 12h16

Fifa precisará de cuidado para definir o que será eterno ou exceção depois de pandemia e George Floyd

Manifestações contra o racismo devem ser incentivadas, não punidas. Permiti-las é acerto histórico da Fifa e da Federação Alemã. Mas, se não houver clareza, isso pode dar margem a manifestações muito menos nobres

Jadon Sancho recebeu cartão amarelo por comemorar um de seus gols contra o Paderborn, no último sábado, erguendo a camisa do Borussia Dortmund e apresentando a frase: "Justice for George Floyd" (Justiça para George Floyd). Além de Sancho, seu colega de time, o lateral marroquino Hakimi, e mais três jogadores do Campeonato Alemão manifestaram-se contra o racismo. Marcus Thuram, atacante do Borussia Moechengladbach, filho do histórico zagueiro francês Liliam Thuram, ajoelhou-se no gramado, como fez o quarter back Colin Kaepernick.

Marcus Thuram Borussia Mönchengladbach Union Berlin — Foto: Getty Images

Marcus Thuram Borussia Mönchengladbach Union Berlin — Foto: Getty Images

No dia seguinte, a Fifa recomendou que todas as manifestações contra o racismo fossem permitidas, inclusive aquelas com camisas de clubes levantadas, antiga e contestada proibição pela Federação Internacional. A Bundesliga seguiu a recomendação da Fifa, retirou as punições e indicou que poderão acontecer nas próximas semanas.

Bom senso absoluto. É óbvio que todas as manifestações anti racistas são bem-vindas e devem ser elogiadas. Mas a Fifa terá de ser muito clara, para não permitir que outro tipo de comemoração, menos nobre, volte a acontecer.

Nos anos 1990, era comum ver o italiano Paolo Di Canio comemorando gols com gestos fascistas. Foi repudiado por torcidas, federações e canais de televisão. A Sky Sports suspendeu suas aparições depois de mostrar o bíceps com tatuagem em referência ao fascismo.

Paolo Di Canio — Foto: AFP

Paolo Di Canio — Foto: AFP

Nunca foi por bom senso que a Fifa proibiu festas de jogadores levantando camisas com inscrições religiosas ou políticas. Foi também por questões comerciais, como evitarl o desaparecimento de patrocinadores na hora do gol. Mas bom senso é algo que não se compra em farmácia.

Não dá para voltar a ter jogadores como Paolo Di Canio fazendo gestos fascistas e justificando que outro tipo de manifestação pode acontecer. Daí ser necessário deixar muito claro que a comoção mundial pela absurda morte de George Floyd vale a liberação. Outras manifestações, não.

Em menor escala, será o caso das cinco substituições. Em Portugal, houve quem julgasse que times poderiam ir à Justiça para impugnar partidas ou o campeonato, por ser jogado em parte com três substituições permitidas e em outra parte com cinco alterações. Bom senso também não se compra numa quitanda no Rocio.

O que parece, hoje, é que as cinco alterações serão fundamentais no retorno dos campeonatos, depois de três meses de paralisação -- em Portugal foram 87 dias. Mas mantê-las para sempre pode ser um benefício para os clubes mais ricos e elencos mais numerosos. É muito menos importante a questão das alterações do que a do racismo. Mas, nos dois casos, a Fifa precisará de cuidado e clareza para mostrar o que será para sempre e o que será aceito em situações especiais.

 

Autoria: Globo Esporte

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